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Demora no trajeto ao trabalho é menor entre moradores de favelas do Rio

Do UOL, no Rio

06/11/2013 10h00

Na cidade do Rio de Janeiro, 21,9% dos moradores de favelas gastam mais de uma hora para ir ao trabalho, proporção inferior à da população que vive nas demais áreas do município, onde 26,3% dos moradores levam mais de uma hora para ir ao trabalho, aponta estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgado nesta quarta-feira (6).

A relação verificada na capital fluminense difere da média nacional, na qual a proporção nos dois tipos de área é praticamente a mesma. O IBGE chama as comunidades carentes de aglomerados subnormais.

Na média dos 89 municípios pesquisados, a proporção de pessoas cujo deslocamento para o local de trabalho leva mais de uma hora é de 19,7% para os moradores de favelas e de 19% para quem vive nas demais áreas das cidades. A estimativa se baseou em dados do Censo Demográfico de 2010.

Esta proximidade entre os dois grupos foi identificada em capitais brasileiras como Belém (10,3%, em comunidades carentes, e 10,9%, nas demais áreas), Fortaleza (13,1% e 12,6%), Recife (12,5% e 10,9%), Salvador (21,8% e 22,1%), Belo Horizonte (17,9% e 16,4%) e Porto Alegre (11,5% e 9,9%).

Já nas cidades de São Paulo e Manaus, verificou-se uma disparidade significativa entre o tempo de deslocamento para o trabalho nos dois tipos de área.

Na capital paulista, as proporções de pessoas que levam mais de uma hora de casa até o local de trabalho variam de 37%, para quem vive em favelas, a 30,3%, para moradores de outras áreas. Já na capital do Amazonas, a disparidade é ainda maior: de 26,1%, para quem mora nas comunidades, e de 15,8% nas outras regiões da cidade, diferença de 10,3 pontos percentuais.

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De acordo com a pesquisa do IBGE, o tempo gasto no deslocamento para o trabalho está relacionado à história de formação de cada cidade e, no caso dos moradores de favelas, às regiões onde as comunidades estão instaladas nos municípios.

O caso isolado do Rio de Janeiro, por exemplo, é justificado, segundo o instituto, pela existência de muitos morros e montanhas no município. “(Isso propiciou) a ocupação de suas encostas ao longo do tecido urbano da cidade. Sendo assim, as populações destas áreas tiveram oportunidade de se instalar perto de seus trabalhos o que diminui o custo e o tempo com o transporte”, explica o estudo.

Já as proporções verificadas na capital paulista se justificam, de acordo com o IBGE, pelo relevo pouco acidentado da cidade, que “proporcionou a ocupação regular de forma contínua a partir do distrito da Sé, relegando os espaços mais distantes do centro à ocupação irregular pelos maiores aglomerados”.

O IBGE ainda relacionou a concentração de comunidades carentes na periferia de Manaus, resultado de “políticas de remoção de palafitas das áreas centrais para conjunto habitacionais nos últimos 10 anos, acentuada pelas ocupações e invasões que ocorreram nestas áreas”, com os índices encontrados na cidade.

A pesquisa, chamada “Áreas de Divulgação da Amostra para Aglomerados Subnormais”, se baseia em um questionário específico aplicado em 6.192.332 domicílios, o que representa uma parcela de 5% a 50% da população, variando de acordo com o tamanho da cidade.

Segundo o IBGE, foram levados em consideração apenas os municípios com mais de 400 domicílios em áreas de favelas. Por isso, apesar de haver 323 municípios com aglomerados subnormais no país, apenas 89 foram incluídos na amostra.

Bens de consumo

O mesmo estudo, que examinou a presença de bens duráveis nos domicílios brasileiros, demonstrou que, na comparação da posse de bens entre as comunidades carentes e as demais áreas dos municípios pesquisados, há maior desigualdade quando levada em conta a posse de carro e de computador.

A pesquisa identificou que, enquanto apenas 17,8% das residências localizadas em comunidades carentes contam com pelo menos um automóvel, praticamente metade (48,1%) dos domicílios situados fora delas dispõe de veículo para uso particular, uma diferença de 30,3 pontos percentuais. Já o computador está presente 27,8% das residências em favelas enquanto 55,6% dos domicílios que não são localizados nestas áreas possuem o bem.

Telefone celular

O estudo constatou ainda que mais da metade dos domicílios situados nas favelas brasileiras dispõem apenas de celular para fazer ligações telefônicas. A proporção das residências em comunidades carentes onde só há telefone móvel é de 53,9%. Já em 4,5% delas existe somente telefone fixo.

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A pesquisa mostra que a opção pela exclusividade do celular é 21,1 pontos percentuais menor nos domicílios localizados nas demais regiões das cidades pesquisadas: a proporção fora dos aglomerados foi inferior a um terço do total (32,8%). A presença apenas de telefone fixo, no entanto, foi de 5,8%, 1,3 ponto percentual maior do que a verificada nas comunidades carentes.

Renda

Em relação aos rendimentos, 31,6% dos moradores de favelas tinham rendimento domiciliar per capita até meio salário mínimo, ao passo que nas demais áreas o percentual era de 13,8%. Por outro lado, apenas 0,9% dos moradores de comunidades carentes tinham rendimento domiciliar per capita de mais de cinco salários mínimos, percentual que era de 11,2% nas demais áreas da cidade.

A informalidade no trabalho também era maior nos aglomerados (27,8% dos trabalhadores não tinham carteira assinada) em relação às outras áreas da cidade (20,5%).